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sábado, 26 de abril de 2008

LUÍS XIV - O REI SOL


QUADRO RETRATANDO O TÍTULO DE LUÍS XIV, REI DE FRANÇA, CONHECIDO COMO "REI SOL".

França, 1643. Sobe ao trono com apenas cinco anos o Luís, filho de Luís XIII e Ana de Áustria. O pequeno, seria conhecido como Luís XIV, o “Rei-Sol”, um ícone da representação do poder na Época Moderna..Luís XIV é o rei que ultrapassou as barreiras do século XVIII. Mas o centro desse estudo encontra-se no processo de fabricação da imagem pública desse soberano.

Durante seu reinado, Luís XIV procurou uma composição de imagens favoráveis que mostrassem uma prosperidade no governo. Em meio a um complicado emaranhado jogo político, dentro e fora da corte, Luís XIV visa apresentar essa produção das imagens como artifícios de dominação e equilíbrio perante seus súditos, dentro e fora do território francês. Cabendo ressaltar que os meios de comunicação não eram de massa, e sim voltados para a elite. Luís XIV influenciava, mas também era influenciado por outros soberanos e procurava sempre ultrapassá-los. Além disso, muitas influências em seu governo serão consideradas: antigas, medievais, renascentistas, barrocas, entre outras.
Luís XIV estabeleceu com maestria uma relação entre a arte e o poder. Seu intuito não era apenas a arte pela arte e sim seus usos no mundo do poder. E dentre esses usos, encontra-se a teatralidade do poder, algo não muito comum para o século .LUÍS XIV, GOVERNAVA COM A ARTE E O PODER. A POSTURA DIANTE DA CORTE ERA FUNDAMENTAL, PARA ESTABELECER O PRESTÍGIO E LEGITIMAR O PODER E A LINHAGEM NOBRE DO ABSOLUTISMO FRANCÊS, CONFORME PODE-SE NOTAR NA PINTURA ACIMA.

“O rei Sol”, governava como se estivesse num teatro. E este palco, identificado com o cerimonial, era fundamental para o fortalecimento e centralização do poder. Sendo um governante que manipulava o cerimonial, Luís XIV pode ser analisado sob duas visões: a cínica e a inocente. A primeira parte do pressuposto que todas as manifestações artísticas seriam utilizadas puramente para manipular, para enganar ao público. A segunda encontra-se no outro extremo, onde todas as pessoas perceberiam os rituais, os símbolos, os mitos da mesma maneira e como expressões concretas da realidade.Tal fato obedeceria a uma necessidade, seja ela consciente ou não. Todavia, a tudo isso, parece-nos terminar numa única visão: uma síntese. Um equilíbrio, do qual percebido nasce um apoio intenso dos jesuítas ao rei, apenas por seu interesse em acabar com o protestantismo.

Entre outros, existem uma infinidade de instrumentos pelos quais se construiu e se expandiu a imagem pública do rei francês, como por exemplo: medalhas, tapeçarias, estátuas, pinturas, panegíricos, periódicos, rituais, peças de teatro, balés, óperas, retratos solenes e muitos outros. Cabe destacar que os cerimoniais ou rituais de todo tipo, a coroação e sagração do rei; as entradas reais nas cidades; o toque régio para curar uma doença de pele chamada escrófula (uma manifestação do caráter sagrado das monarquias francesa e inglesa); a recepção de embaixadores estrangeiros, etc, são tratados como meios de comunicação, meios pelos quais são produzidas imagens vivas do soberano. Acrescentam-se também, imagens que ficam imortalizadas pelos relatos escritos das cerimônias, material que deve ser considerado e apreciado pelo historiador como uma fonte histórica preciosa.

A teatralidade na vida cotidiana do rei estava presente até mesmo nas cerimônias do levantar pela manhã e ir se deitar à noite, poderiam ser consideradas como encenações, uma vez que obedeceriam a critérios já estabelecidos e eram sempre re-atualizadas. Dessa forma, Luís XIV seria um ator diariamente, quando houvesse público.

Qual foi o impacto de uma pintura em relação a um panegírico, ou de um periódico e um arco de triunfo, por exemplo? De certo, as estátuas, pinturas, eram meios de comunicação privilegiados, uma vez que permitiam superar os obstáculos do analfabetismo.

A imagem do Rei Sol, Luís XIV governando sozinho, favorecido pelas vitórias nas Guerras de Devolução (1667 - 1668) e Holandesa (1672 - 1678) mostra todo o interesse e esforço para que o rei seja representado como um herói.Todo esse sistema, arquitetado por Jean Baptiste Colbert caracterizou-se por uma burocratização crescente da produção artística, a saber: a criação de um sistema de academias; a administração cada vez maior de diretores, superintendentes ou inspetores (funcionários públicos) e a formação de comitês, principalmente a petite académie que supervisionava essa fabricação. Partindo do centro e reafirmando Luís XIV como o maior patrocinador das artes, esse sistema funcionava sempre no sentido de glorificá-lo. Em outras palavras, a glorificação do soberano seria o mecanismo que movia todo o funcionamento desse sistema.Entretanto, essa fabricação de uma imagem poderosa de Luís XIV, não apresenta o poder de forma com ele realmente existe, sem os conflitos que os interesses diversos proporcionam. Podemos perceber tal fato, no qual esse sistema de fabricação da imagem pública passa por uma reconstrução, com a morte de Colbert (1683) e a ascensão de Louvois.

Essa mudança implica não somente em estratégias diferentes de condução dessa organização como também de substituição de clientelas. Isso pode ser notado como a necessidade maior de contextualização da Fronda e dos diferentes interesses entre Luís XIV e Colbert em relação aos projetos artísticos dos palácios de Versailles e Louvre. Esse sistema procura sempre mostrar Luís XIV como um rei consciente de seu papel.Todavia, a fabricação da imagem de Luís XIV aponta para uma relação com a existência de uma certa fragilidade do poder desse soberano. Isso é explicado em dois momentos: as diversas crises porque passou seu governo - dentre elas a Fronda e as dificuldades econômicas e políticas a segunda fase de seu governo - e a comparação entre Filipe IV e Luís XIV, no que diz respeito às dinastias Habsburgo, já bem consolidada, e a Bourbon, ainda recente, procurando se fortalecer.